quarta-feira, 18 de julho de 2012

Biografia George Whitefield – J. C. Ryle Parte Final Capítulo 4 – Parte 2 O Ministério e Pregação de Whitefield



Ele era um homem de ardente amor por nosso Senhor Jesus Cristo. Este nome que está ‘acima de todo nome' destaca-se incessantemente em toda a sua correspondência. Como um ungüento perfumado, ele dá um aroma a todas as suas cartas. Ele parece nunca cansar de dizer alguma coisa a respeito de Jesus. ‘Meu Mestre' como George Herbert dizia, nunca fica fora de sua mente. Seu amor, Sua expiação, Seu sangue precioso, Sua justiça, Sua prontidão em receber pecadores, Sua paciência e maneira meiga de lidar com os santos, são temas que aparecem sempre frescos diante de seus olhos. Pelo menos neste aspecto, há uma curiosa semelhança entre ele e aquele glorioso teólogo escocês, Samuel Rutherford.
Ele era um homem de incansável diligência e labor no que diz respeito nos negócios de seu Mestre. Seria difícil talvez, encontrar alguém nos anais da Igreja que trabalhou tão duro por Cristo e se gastou tão plenamente em seu serviço. Henry Venn, no sermão fúnebre em sua lembrança, pregado em Bath, deu o seguinte testemunho, ‘Que sinal e prodígio foi este homem de Deus, no que diz respeito à imensidão dos seus labores! Alguém não pode senão ficar espantado que a sua estrutura mortal pudesse, pelo espaço de quase trinta anos, sem interrupção, sustentar o peso deles; pois o que é mais fatigante á estrutura humana, especialmente na juventude, do que um esforço longo, contínuo, freqüente e violento dos pulmões? Quem que conheça sua estrutura pensaria ser possível que uma pessoa pouco acima da idade adulta, pudesse falar em uma simples semana, e isto durante anos - em geral quarenta horas, e em muitas semanas, sessenta - e isto para milhares de pessoas; e após seus labores, ao invés de descansar, poderia elevar orações e intercessões, com hinos e cânticos espirituais, como costumava fazer, em cada casa à qual era convidado? A verdade é que, no que diz respeito ao labor, este extraordinário servo de Deus fez em algumas semanas tanto quanto a maioria daqueles que, embora se esforçando, consegue fazer no espaço de um ano.
Ele foi até o fim, um homem de eminente auto-negação. Seu estilo de vida era o mais simples. Ele foi notadamente um exemplo típico de moderação no comer e beber. Durante toda a sua vida, ele acordava muito cedo. Sua hora habitual de levantar-se era às quatro horas, tanto no verão como no inverno; e era igualmente pontual na hora de recolher-se, cerca de dez horas da noite. Um homem de oração, ele freqüentemente gastava noites inteiras em leitura e devoção. Cornelius Winter, que freqüentemente dormia no mesmo quarto, diz que ele às vezes levantava durante a noite com este propósito. Ele ligava muito pouco para dinheiro, exceto como uma ajuda para a causa de Cristo, e o recusava, quando lhe era oferecido para seu próprio uso. Uma vez recusou a importância de sete mil libras. Ele não acumulou fortuna nem estabeleceu uma próspera família. O pouco dinheiro que ele deixou ao morrer provinha inteiramente de doações de amigos. O comentário vulgar que o Papa fez a respeito de Lutero, ‘este animal alemão não ama o ouro', poderia bem ter sido aplicado a Whitefield.
Ele era um homem de notável desinteresse e simplicidade. Ele parecia viver apenas para dois objetivos: a glória de Deus e a salvação de almas. Ele não tinha objetivos secundários ocultos. Ele não levantou nenhum grupo de seguidores que tomassem seu nome. Ele não estabeleceu nenhum sistema denominacional que adotasse seus próprios escritos como elementos cardinais. Uma expressão sua é bem característica do homem: ‘Que o nome de George Whitefield pereça contanto que Cristo seja exaltado'.
Ele era um homem de um espírito singularmente feliz e alegre. Ninguém que o visse poderia jamais duvidar que ele se deleitava na sua religião. Perseguido que foi de muitas maneiras por todo o seu ministério - caluniado por alguns, desprezado por outros, deturpado por falsos irmãos, sofrendo oposição em todo lugar pelo clero ignorante do seu tempo, preocupado por incessante controvérsia - sua flexibilidade nunca falhou. Ele era um cristão eminentemente alegre, cuja própria conduta recomendava a obra de seu Mestre. Uma venerável senhora de New York, após sua morte, ao falar das influências através das quais o Espírito ganhou seu coração para Deus, usou estas notáveis palavras: ‘O Senhor Whitefield era tão feliz que isso me provocou a tornar-me uma cristã.'
Finalmente, mas não menos importante, ele era um homem de extraordinária caridade, catolicidade e liberalidade na sua religião. Ele nada conhecia daquele sentimento tacanho que faz com que alguns homens imaginem que tudo tem que ser estéril, fora de seus próprios campos, e que sua própria denominação tem um completo monopólio da verdade e do Céu. Ele amava todos os que amavam o Senhor Jesus com sinceridade. Ele media a todos com a medida que os anjos usam, ‘professam eles arrependimento para com Deus, fé no nosso Senhor Jesus Cristo e santidade de vida?' Se sim, eles eram seus irmãos. Sua alma ligava-se com estes homens, qualquer que fosse o nome com que fossem chamados. Diferenças menores eram madeira, palha e restolho para ele. As marcas do Senhor Jesus eram as únicas marcas que lhe interessavam. Essa catolicidade era mais notável quando o espírito dos tempos em que viveu é considerado. Até mesmo os Erskines, na Escócia, queriam que ele não pregasse em nenhuma outra denominação que não a deles - isto é, a Igreja da Cessessão. Ele perguntou: ‘Por que somente para eles?' - E recebeu a incrível resposta que ‘eles eram o povo do Senhor.' Isto foi mais do que Whitefield podia suportar. Ele disse: ‘Se não há nenhum outro povo de Deus senão eles, se todos os outros são povo do diabo, eles certamente têm mais necessidade de pregação;' E ele finalizou informando-os de que ‘se o próprio Papa lhe cedesse seu púlpito, ele proclamaria alegremente nele a justiça de Cristo.' A esta catolicidade de espírito ele aderiu todos os seus dias. Se outros cristãos o deturpassem, ele os perdoava, e se recusassem trabalhar com ele, ainda assim ele os amava. Nada pode ser um testemunho mais valioso contra a intolerância do que o seu pedido, feito pouco antes da sua morte que, quando morresse, John Wesley fosse convidado para pregar no seu enterro. Wesley e ele há muito não concordavam sobre pontos calvinistas; mas Whitefield, até o fim, estava determinado a esquecer as diferenças superficiais, e a considerar Wesley como Calvino considerou Lutero: ‘Simplesmente um bom servo de Jesus Cristo.' Em outra ocasião um severo professor de religião lhe perguntou ‘se ele pensava que veria John Wesley no céu?' ‘Não, senhor,' foi a sua extraordinária resposta; ‘eu temo que não. Ele estará tão próximo do trono, e nós tão distantes, que dificilmente o veremos'.
Longe de mim dizer que o assunto deste capítulo foi um homem sem faltas. Como todos os santos de Deus, ele foi uma criatura imperfeita. Ele às vezes errava nos seus julgamentos. Ele freqüentemente tirava conclusões precipitadas sobre a providência divina, e se enganava, tomando as suas próprias inclinações como sendo direção de Deus. Ele era freqüentemente apressado, tanto com sua língua como com sua pena. Ele não hesitava em dizer que o ‘Arcebispo Tillotson não sabia mais do Evangelho do que Maomé.' Ele errava em distinguir algumas pessoas como inimigas do Senhor e outras como amigas do Senhor tão precipitada e positivamente como às vezes fazia. Era censurável sua atitude de denunciar muitos ministros como ‘fariseus,' porque não aceitavam a doutrina do novo nascimento. Mas ainda assim, apesar de tudo que foi dito, não pode haver dúvida de que, no geral, ele era um homem eminentemente santo, que se auto-negava, e consistente. ‘As faltas do seu caráter,' diz um escritor americano - ‘eram como pontos no sol, detectadas sem muita dificuldade por qualquer observador moderado e cuidadoso que se esforce em procurá-las, mas, para todo propósito prático, são pontos perdidos numa efulgência geral e afável'. Quão bom seria para as igrejas dos nossos dias, se Deus lhes desse mais ministros como o grande evangelista da Inglaterra de cem anos atrás!
Apenas nos resta dizer que aqueles que desejarem conhecer mais a respeito de Whitefield fariam bem em ler com atenção os sete volumes de suas cartas e outras publicações, que o Dr. Gillies editou em 1770. Eu estaria muito enganado se quem fizer isso não for agradavelmente surpreendido com o seu conteúdo. E motivo de espanto para mim que, dentre tantas reimpressões no século dezenove, nenhum publicador tenha tentado reimprimir totalmente as obras de George Whitefield.
Um pequeno trecho da conclusão de um sermão pregado por Whitefield em Kennington Common, pode ser interessante para alguns leitores, e pode servir para dar-lhes uma pálida idéia do estilo do grande pregador. Foi um sermão baseado no texto, ‘Que pensais vós do Cristo?' (Mt. 22:42).
‘Ó meus irmãos, meu coração está dilatado para vocês. Eu confio que sinto alguma coisa daquela escondida mas poderosa presença de Cristo enquanto estou pregando a vocês. Sim, ela é doce - ela é extraordinariamente reconfortante. Todo o mal que eu desejo a vocês que sem razão são meus inimigos, é que sintam o que estou sentindo. Acreditem-me, embora fosse um inferno para minha alma retornar ao estado natural novamente, ainda assim, eu desejaria trocar de estado com vocês por um tempo, a fim de que vocês pudessem conhecer o que é ter Cristo habitando em seus corações pela fé. Não voltem suas costas. Não deixem que o diabo os faça sair correndo. Não temam a convicção de pecados. Não pensem mal das doutrinas porque pregadas fora das paredes da igreja. Nosso Senhor, nos dias de Sua carne, pregou em um monte, em um barco, em um campo, e eu estou persuadido que muitos têm sentido aqui a Sua graciosa presença. A verdade é que nós falamos do que conhecemos. Portanto, não rejeitem o reino de Deus, para o mal de si próprios. Sejam sábios e recebam o nosso testemunho.
‘Eu não posso, e não permitirei que partam. Permaneçam um pouco, e ponderemos juntos. Por mais levianamente que vocês estimem suas almas, eu sei que o nosso Senhor coloca nelas um valor indizível. Ele as considerou dignas de Seu preciosíssimo sangue. Eu rogo a vocês, portanto, ó pecadores, que se reconciliem com Deus. Eu espero que vocês não temam ser aceitos no Amado. Eis que Ele chama vocês. Eis, Ele toma a dianteira e segue vocês com sua misericórdia, e enviou Seus servos às ruas e becos para compeli-los a entrar.
‘Lembrem-se, portanto, que nesta hora deste dia, neste ano, neste lugar, foi dito a todos o que deveriam pensar a respeito de Jesus Cristo. Se vocês perecerem agora, não será por falta de conhecimento. Eu estou livre do sangue de todos vocês. Vocês não podem dizer que eu tenho pregado condenação. Não podem dizer que eu tenho, como os pregadores legalistas, requerido que vocês façam tijolos sem palha. Eu não tenho ordenado que vocês se façam a si mesmos santos e então venham a Deus. Eu tenho oferecido a salvação a vocês nos termos mais fáceis que possam desejar. Eu tenho oferecido toda a sabedoria de Cristo, toda a justiça de Cristo, toda a santificação e eterna redenção de Cristo, se vocês apenas crerem nEle. Se você disser que não pode crer, diz certo; pois a fé, assim como todas as outras bênçãos, é dom de Deus. Mas então espere em Deus, e quem sabe se Ele não terá misericórdia de você' .
‘Por que não nutrimos mais pensamentos amorosos a respeito de Cristo? Você pensa que Ele terá misericórdia de outros e não de você? Você não é pecador? Cristo não veio a este mundo para salvar os pecadores?'
‘Se você disser que é o maior dos pecadores, eu replico que isso não será impedimento para a sua salvação. De fato não será, se você, pela fé se apegar a Cristo. Leia os Evangelhos e veja quão amavelmente Ele se comportava para com os seus discípulos, os quais O abandonaram e negaram. ‘Vão, digam aos meus irmãos', diz Ele. Ele não diz, ‘vão digam àqueles traidores,' mas, ‘vão, digam aos meus irmãos e a Pedro'. E como se Ele houvesse dito, ‘Vão, digam aos meus irmãos em geral, e a Pedro em particular, que eu ressuscitei. Oh, confortem seu coração abatido. Digam-lhe que eu estou reconciliado com ele. Ordenem que ele não chore mais tão amargamente. Porque apesar de ter Me negado três vezes com juras e imprecações, ainda assim Eu morri pelos seus pecados; Eu ressuscitei novamente para sua justificação: Eu gratuitamente perdoei tudo.' Assim, lento para irar-Se e de grande benignidade, foi nosso todo misericordioso Sumo Sacerdote. E você pensa que Ele mudou Sua natureza e esqueceu-Se dos pobres pecadores, agora que foi exaltado à direita de Deus? Não! Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre; e assentou-Se ali apenas para interceder por nós'.
‘Venham, portanto, vocês prostitutas; venham, vocês publicanos; venham, vocês pecadores abandonados, venham e creiam em Jesus Cristo. Embora o mundo inteiro os despreze e os expulse, ainda assim Ele não desdenhará tomá-los para Si. Oh, que amor surpreendente, que amor condescendente! Mesmo vocês, ele não se envergonhará de chamar Seus irmãos. Como escaparão vocês se negligenciarem tal oferta gloriosa de salvação? O que não dariam os espíritos condenados agora nas prisões do inferno, se Cristo lhes fosse tão graciosamente oferecido? E por que não estamos erguendo nossos olhos em tormentos? Qualquer pessoa entre esta grande multidão ousa dizer que não merece condenação? Por que somos deixados, enquanto outros são tomados pela morte? O que é isto senão um exemplo da livre graça de Deus, e um sinal da Sua boa vontade para conosco? Deixemos que a bondade de Deus nos guie ao arrependimento. Oh, haja alegria nos Céus, por alguns de vocês que se arrependam!'


FIM
*Traduzido por Paulo R. B. Anglada, a partir de J. C. Ryle, Christian Leaders of 18th. Century (reprint, Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1978), 149-79. Revisado por Cláudio Vilhena e Emir Bemerguy Filho.





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