Mateus 5.4
O pranto é detestável e penoso para a pobre
natureza humana. Do sofrimento e da tristeza nossos espíritos instintivamente
se afastam. Por natureza nós procuramos a sociedade dos alegres e jubilosos.
Nosso texto apresenta uma anomalia ao não regenerado, além de uma doce música
aos ouvidos do eleito de Deus. Se “bem-aventurado” porque eles “choram”?
Se eles “choram” como eles podem ser “bem -aventurados”? Somente
o filho de Deus tem a chave para esse paradoxo. Quanto mais nós ponderamos em
nosso texto mais nós somos constrangidos a exclamar, “Jamais alguém falou
como este homem”[4] Bem-aventurado
[felizes] os que choram é um aforismo que está em completa variância com a
lógica do mundo. O homem tem em todos os lugares e em todas as épocas
considerado o prospero e alegre como feliz, mas Cristo pronuncia alegres
aqueles que são pobres em espírito e que choram.
Agora é óbvio que não e toda espécie de choro que o
texto se refere aqui. Há uma “tristeza do mundo que produz morte” (2
Coríntios 7.10). O choro o qual Cristo promete conforto deve ser restrito ao
que é espiritual. O choro que é abençoado é o resultado da percepção da
santidade e bondade de Deus que brota em um senso de depravação de nossas
naturezas e uma enorme culpa de nossa conduta. O choro o qual Cristo promete
Divino conforto é um choro por nossos pecados com uma tristeza piedosa.
As oito beatitudes são arranjadas em quatro pares.
Prova disso será fornecida conforme nós prosseguirmos. A primeira das series é
a benção que Cristo pronuncia sobre aqueles que são pobres em espírito, o qual
nós tomamos como uma descrição daqueles despertados com um senso de seu próprio
vazio e insignificância. Agora a transição da tal pobreza ao choro é fácil
deduzir. Na realidade, 0 choro segue tão próximo daquilo que é de verdade o
acompanhante da pobreza.
O choro que é aqui referido é mais que uma
manifestação de privação, aflição, ou perda. É o choro pelo pecado.
É o lamento por sentir a pobreza de nosso estado
espiritual, e pelas iniquidades que nos separaram de Deus, lamento pela muito
pobre moralidade na qual nos orgulhávamos, e na justiça própria em qual nos
confiávamos; lamento pela rebelião contra Deus, e hostilidade a Sua vontade; e
tal choro sempre caminha lado a lado com a pobreza de espírito (Dr. Pierson).
Uma notável ilustração e exemplificação do espírito
sobre o qual o Salvador pronunciou essa bem-aventurança é encontrada em Lucas
18.9-14. Há um vivido contraste o qual é apresentado a nossa visão. Primeiro,
nos é mostrado um hipócrita fariseu olhando para Deus e dizendo “Ó
Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos
e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o
dízimo de tudo quanto ganho”. Isso pode tudo ser verdade como ele
observou, porém esse homem desceu para sua casa em um estado de condenação.
Suas roupas finas eram trapos, suas vestes brancas eram imundas, embora nos não
o conheçamos. Então nos é mostrado o publicano, ficava longe, na linguagem do
Salmista, ele estava tão perturbado com suas iniquidades que ele não era capaz
de ver (Salmo 40.12). Ele ousava não levantar seus olhos ao céu, mas batia em
seu peito. Consciente da fonte de corrupção no seu interior, ele clamou “Ó
Deus tenha misericórdia de mim, pecador!” (ACF[5]). Esse homem desceu a
sua casa justificado, porque ele era pobre em espírito e chorou por seus
pecados.
Aqui, então, são as primeiras marcas de nascimento
dos filhos de Deus. Aquele que nunca venho a ser pobre em espírito e que nunca
soube o que é realmente chorar pelos pecados, ainda que pertença a uma igreja
ou seja um oficial nela, ele nem viu nem entrou no Reino de Deus. Quão
agradecido o leitor Cristão deve ser ao grande Deus condescender em habitar no
humilde e contrito coração! Essa é a maravilhosa promessa feita por Deus mesmo
no Velho Testamento (por Ele, em cuja a visão dos céus não é pura, que não
pode-se encontrar em qualquer templo que o homem tenha construído para Ele, por
mais Maravilhoso que seja, um lugar próprio para Sua habitação – veja Isaías
57.15 e 66.2)
“Bem aventurado os que choram” Embora a
referência primária seja ao choro inicial comumente chamado de convicção do
pecado, ele não é de modo nenhum limitado a isso. Choro é sempre uma
característica do estado cristão normal. Há muita coisa que o crente tem de
lamentar. A praga de seu próprio coração o faz chorar, “Desventurado
homem que eu sou” (Romanos 7.24). A incredulidade que “tão de perto nos
rodeia” (Hebreus 12.1 - ACF) e pecados que nós cometemos, os quais são mais
numerosos que os cabelos de nossa cabeça, são uma contínua tristeza para nós. A
esterilidade e inutilidade de nossas vidas faz-nos suspirar e chorar. Nossa
propensão a desviar-se de Cristo, nossa falta de comunhão com Ele, e a
superficialidade de nosso amor por Ele leva-nos a pendurar nossas harpas no
salgueiro[6]. Mas há muitas outras
causas para chorar que assaltam os corações cristãos: em cada palmo a religião
hipócrita que tem forma de piedade enquanto nega o poder dela (2 Timóteo 3.5);
a terrível desonra feita a verdade de Deus por falsas doutrinas ensinadas em
incontáveis púlpitos; as divisões entre o povo do Senhor; e contenda entre
irmãos. A combinação dessas fornece ocasião para um continuo lamento do
coração. A terrível perversidade no mundo, o desprezo por Cristo, os
incalculáveis sofrimentos humanos fazem nos gemer com nós mesmos. Quanto mais
perto o cristão vive de Deus, mais ele lamenta tudo que O desonra. Isso é uma
experiência comum do verdadeiro povo de Deus. (Salmo 119.53, Jeremias 13.17;
14.17; Eze 9.4).
“serão consolados” Por essa palavras Cristo
se refere primeiramente a remoção da culpa que sobrecarrega a consciência. Isso
é efetuado pela aplicação do evangelho da Graça de Deus pelo Espírito aquele
que foi convicto de sua necessidade terrível de um Salvador. O resultado é um senso
de liberdade e total perdão pelos méritos do sangue expiatório de Cristo. Esse
Divino conforto é “a paz de Deus, que excede todo entendimento”
(Filipenses 4.7), preenchendo o coração daquele que esta agora seguro que ele é
“aceito no Amado” (Efésios 1.6[7]). Deus fere antes de curar,
e humilha antes d'Ele exaltar. Primeiro há uma revelação de Sua justiça e
santidade, então ele faz conhecida Sua misericórdia e graça.
As palavras “serão consolados” também
recebem um constante cumprimento na experiência do Cristão. Embora ele chore
suas falhas inexcusáveis e as confesse a Deus, contudo ele é confortado pela
garantia que o sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, o limpa se todo pecado (1
João 1.7). Embora ele gema pela desonra feita a Deus por todos os lados, porém
ele é confortado pelo conhecimento que o dia esta rapidamente se aproximando
quando Satanás será lançado no inferno para sempre e os santos irão reinar com
o Senhor Jesus nos “novos céus, e nova terra, nos quais habita a justiça”
(2 Pedro 3.13). Embora a mão corretiva do Senhor esteja frequentemente colocada
sobre ele e embora “toda disciplina, com efeito, no momento não pareça ser
motivo de alegria, mas de tristeza” (Hebreus 12.11), ainda assim, ele é
consolado pela percepção que isso tudo esta trabalhando para ele “eterno peso
de glória acima de toda comparação” (2 Coríntios 4.17). Como o Apóstolo
Paulo, o crente que está em comunhão com o Senhor pode dizer, “entristecido,
mas sempre alegre” (2 Coríntios 6.10). Ele pode frequentemente ser chamado
para beber das amargas águas de Mara[8], mas Deus plantou
próximo uma árvore para adoçá-las. Sim, pesarosos cristãos são confortados
mesmo agora pelo Divino Consolador: pelas ministrações de Seus servos, pelas
palavras encorajadoras de companheiros cristãos, e (quando essas coisas não
estão à mão) pelas preciosas promessas da Palavra sendo trazidas para casa pelo
poder do Espírito nos seus corações de fora dos depósitos de suas memórias.
“Serão consolados” O melhor vinho é
reservado para o fim. “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela
manhã” (Salmo 30.5 ACF). Durante a longa noite de sua ausência, crentes
foram chamados a companhia com Ele que foi o Homem de Dores. Mas está escrito,
“se com Ele sofremos, com Ele também seremos glorificados” (Romanos
8.17). Que conforto e alegria será nossa, quando despontar a manhã sem nuvens!
Então “deles fugirá a tristeza e o gemido” (Isaías 35.10). Então serão
cumpridas as palavras da grande voz celestial em Apocalipse 21.3, 4 (ACF): “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o
tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu
povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus
olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas.”
Autor: Arthur W. Pink
Tradução: Ivan Carlos Parecy
Junior
Original: Aqui
[1] Você pode ler a
primeira beatitude nesse link: http://www.monergismo.com/textos/comentarios/1_beatitude_pink.htm
[2] Salvo indicação em
contrário as citações bíblicas são da versão Almeida Revista e Atualizada.
[3] Originalmente não
há notas de rodapé, essas foram adicionadas pelo tradutor para facilitar o
entendimento do leitor.
[4] João 7.46.
[5] Quando for usada a
sigla ACF, a versão utilizada foi a Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
[6] Para maior
entendimento da expressão veja o Salmo 137.
[7] Nesse caso fiz
tradução direta da versão usada pelo autor a King James.
[8] Veja Êxodo 15.22-27
Nenhum comentário:
Postar um comentário