domingo, 13 de janeiro de 2013

A segunda beatitude - Arthur W. Pink



Bem-aventurado os que choram, porque serão consolados” [1] [2] [3]
Mateus 5.4
O pranto é detestável e penoso para a pobre natureza humana. Do sofrimento e da tristeza nossos espíritos instintivamente se afastam. Por natureza nós procuramos a sociedade dos alegres e jubilosos. Nosso texto apresenta uma anomalia ao não regenerado, além de uma doce música aos ouvidos do eleito de Deus. Se “bem-aventurado” porque eles “choram”? Se eles “choram” como eles podem ser “bem -aventurados”? Somente o filho de Deus tem a chave para esse paradoxo. Quanto mais nós ponderamos em nosso texto mais nós somos constrangidos a exclamar, “Jamais alguém falou como este homem[4] Bem-aventurado [felizes] os que choram é um aforismo que está em completa variância com a lógica do mundo. O homem tem em todos os lugares e em todas as épocas considerado o prospero e alegre como feliz, mas Cristo pronuncia alegres aqueles que são pobres em espírito e que choram.

Agora é óbvio que não e toda espécie de choro que o texto se refere aqui. Há uma “tristeza do mundo que produz morte” (2 Coríntios 7.10). O choro o qual Cristo promete conforto deve ser restrito ao que é espiritual. O choro que é abençoado é o resultado da percepção da santidade e bondade de Deus que brota em um senso de depravação de nossas naturezas e uma enorme culpa de nossa conduta. O choro o qual Cristo promete Divino conforto é um choro por nossos pecados com uma tristeza piedosa.
As oito beatitudes são arranjadas em quatro pares. Prova disso será fornecida conforme nós prosseguirmos. A primeira das series é a benção que Cristo pronuncia sobre aqueles que são pobres em espírito, o qual nós tomamos como uma descrição daqueles despertados com um senso de seu próprio vazio e insignificância. Agora a transição da tal pobreza ao choro é fácil deduzir. Na realidade, 0 choro segue tão próximo daquilo que é de verdade o acompanhante da pobreza.
O choro que é aqui referido é mais que uma manifestação de privação, aflição, ou perda. É o choro pelo pecado.
É o lamento por sentir a pobreza de nosso estado espiritual, e pelas iniquidades que nos separaram de Deus, lamento pela muito pobre moralidade na qual nos orgulhávamos, e na justiça própria em qual nos confiávamos; lamento pela rebelião contra Deus, e hostilidade a Sua vontade; e tal choro sempre caminha lado a lado com a pobreza de espírito (Dr. Pierson).
Uma notável ilustração e exemplificação do espírito sobre o qual o Salvador pronunciou essa bem-aventurança é encontrada em Lucas 18.9-14. Há um vivido contraste o qual é apresentado a nossa visão. Primeiro, nos é mostrado um hipócrita fariseu olhando para Deus e dizendo “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”. Isso pode tudo ser verdade como ele observou, porém esse homem desceu para sua casa em um estado de condenação. Suas roupas finas eram trapos, suas vestes brancas eram imundas, embora nos não o conheçamos. Então nos é mostrado o publicano, ficava longe, na linguagem do Salmista, ele estava tão perturbado com suas iniquidades que ele não era capaz de ver (Salmo 40.12). Ele ousava não levantar seus olhos ao céu, mas batia em seu peito. Consciente da fonte de corrupção no seu interior, ele clamou “Ó Deus tenha misericórdia de mim, pecador!” (ACF[5]). Esse homem desceu a sua casa justificado, porque ele era pobre em espírito e chorou por seus pecados.
Aqui, então, são as primeiras marcas de nascimento dos filhos de Deus. Aquele que nunca venho a ser pobre em espírito e que nunca soube o que é realmente chorar pelos pecados, ainda que pertença a uma igreja ou seja um oficial nela, ele nem viu nem entrou no Reino de Deus. Quão agradecido o leitor Cristão deve ser ao grande Deus condescender em habitar no humilde e contrito coração! Essa é a maravilhosa promessa feita por Deus mesmo no Velho Testamento (por Ele, em cuja a visão dos céus não é pura, que não pode-se encontrar em qualquer templo que o homem tenha construído para Ele, por mais Maravilhoso que seja, um lugar próprio para Sua habitação – veja Isaías 57.15 e 66.2)
Bem aventurado os que choram” Embora a referência primária seja ao choro inicial comumente chamado de convicção do pecado, ele não é de modo nenhum limitado a isso.  Choro é sempre uma característica do estado cristão normal. Há muita coisa que o crente tem de lamentar. A praga de seu próprio coração o faz chorar, “Desventurado homem que eu sou” (Romanos 7.24). A incredulidade que “tão de perto nos rodeia” (Hebreus 12.1 - ACF) e pecados que nós cometemos, os quais são mais numerosos que os cabelos de nossa cabeça, são uma contínua tristeza para nós. A esterilidade e inutilidade de nossas vidas faz-nos suspirar e chorar. Nossa propensão a desviar-se de Cristo, nossa falta de comunhão com Ele, e a superficialidade de nosso amor por Ele leva-nos a pendurar nossas harpas no salgueiro[6]. Mas há muitas outras causas para chorar que assaltam os corações cristãos: em cada palmo a religião hipócrita que tem forma de piedade enquanto nega o poder dela (2 Timóteo 3.5); a terrível desonra feita a verdade de Deus por falsas doutrinas ensinadas em incontáveis púlpitos; as divisões entre o povo do Senhor; e contenda entre irmãos.  A combinação dessas fornece ocasião para um continuo lamento do coração. A terrível perversidade no mundo, o desprezo por Cristo, os incalculáveis sofrimentos humanos fazem nos gemer com nós mesmos. Quanto mais perto o cristão vive de Deus, mais ele lamenta tudo que O desonra. Isso é uma experiência comum do verdadeiro povo de Deus. (Salmo 119.53, Jeremias 13.17; 14.17; Eze 9.4).
serão consolados” Por essa palavras Cristo se refere primeiramente a remoção da culpa que sobrecarrega a consciência. Isso é efetuado pela aplicação do evangelho da Graça de Deus pelo Espírito aquele que foi convicto de sua necessidade terrível de um Salvador. O resultado é um senso de liberdade e total perdão pelos méritos do sangue expiatório de Cristo. Esse Divino conforto é “a paz de Deus, que excede todo entendimento” (Filipenses 4.7), preenchendo o coração daquele que esta agora seguro que ele é “aceito no Amado” (Efésios 1.6[7]). Deus fere antes de curar, e humilha antes d'Ele exaltar. Primeiro há uma revelação de Sua justiça e santidade, então ele faz conhecida Sua misericórdia e graça.
As palavras “serão consolados” também recebem um constante cumprimento na experiência do Cristão. Embora ele chore suas falhas inexcusáveis e as confesse a Deus, contudo ele é confortado pela garantia que o sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, o limpa se todo pecado (1 João 1.7). Embora ele gema pela desonra feita a Deus por todos os lados, porém ele é confortado pelo conhecimento que o dia esta rapidamente se aproximando quando Satanás será lançado no inferno para sempre e os santos irão reinar com o Senhor Jesus nos “novos céus, e nova terra, nos quais habita a justiça” (2 Pedro 3.13). Embora a mão corretiva do Senhor esteja frequentemente colocada sobre ele e embora “toda disciplina, com efeito, no momento não pareça ser motivo de alegria, mas de tristeza” (Hebreus 12.11), ainda assim, ele é consolado pela percepção que isso tudo esta trabalhando para ele “eterno peso de glória acima de toda comparação” (2 Coríntios 4.17). Como o Apóstolo Paulo, o crente que está em comunhão com o Senhor pode dizer, “entristecido, mas sempre alegre” (2 Coríntios 6.10). Ele pode frequentemente ser chamado para beber das amargas águas de Mara[8], mas Deus plantou próximo uma árvore para adoçá-las. Sim, pesarosos cristãos são confortados mesmo agora pelo Divino Consolador: pelas ministrações de Seus servos, pelas palavras encorajadoras de companheiros cristãos, e (quando essas coisas não estão à mão) pelas preciosas promessas da Palavra sendo trazidas para casa pelo poder do Espírito nos seus corações de fora dos depósitos de suas memórias.
Serão consolados” O melhor vinho é reservado para o fim. “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo 30.5 ACF). Durante a longa noite de sua ausência, crentes foram chamados a companhia com Ele que foi o Homem de Dores. Mas está escrito, “se com Ele sofremos, com Ele também seremos glorificados” (Romanos 8.17). Que conforto e alegria será nossa, quando despontar a manhã sem nuvens! Então “deles fugirá a tristeza e o gemido” (Isaías 35.10). Então serão cumpridas as palavras da grande voz celestial em Apocalipse 21.3, 4 (ACF): “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.”
Autor: Arthur W. Pink
Tradução: Ivan Carlos Parecy Junior
Original: Aqui



[1] Você pode ler a primeira beatitude nesse link: http://www.monergismo.com/textos/comentarios/1_beatitude_pink.htm
[2] Salvo indicação em contrário as citações bíblicas são da versão Almeida Revista e Atualizada.
[3] Originalmente não há notas de rodapé, essas foram adicionadas pelo tradutor para facilitar o entendimento do leitor.
[4] João 7.46.
[5] Quando for usada a sigla ACF, a versão utilizada foi a Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
[6] Para maior entendimento da expressão veja o Salmo 137.
[7] Nesse caso fiz tradução direta da versão usada pelo autor a King James.
[8] Veja Êxodo 15.22-27

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