Texto
base: Salmo 19
A
segunda pergunta do catecismo maior de Westminster diz “Donde se infere que há
um Deus?” e a resposta dada é “A própria luz da natureza no espírito do homem e
as obras de Deus claramente manifestam que existe um Deus; porém só a sua
Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo suficiente e eficazmente aos
homens para a salvação”, Sobre isso gostaria de falar um pouco hoje.
Dos
versos 1 a 6 o salmo fala de como a natureza declara que há um Deus. Paulo faz
algo semelhante em Romanos 1.20 “Porque
os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebido por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis”. Percebemos que há um Deus por meio das obras da natureza,
portanto quem o nega é indesculpável, porém há algo digamos filosófico que
gostaria de falar sobre isso. Um cachorro ou um macaco não inferem que há um
Deus por observar a natureza, o que quero dizer com isso, além da natureza
precisa haver algo em nós que faça perceber por meio da natureza que há um
Deus. A Bíblia nos ensina que homem e mulher foram criados a imagem de Deus
(Gênesis 1.27), apenas o homem tem a capacidade de se comunicar com Deus, e
apenas no homem como diz Calvino “um senso da divindade que nunca se apaga está
gravado na mente dos homens”. Por essa razão quando olhamos para natureza esse
sendo de divindade que há em todos os homens faz lembrarmos que há um Deus.
“Os céus proclamam a
glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”
(verso 1). Como diz Davi no salmo 8, os céus nos levam a perceber a grandeza de
Deus e consequentemente nossa pequenez diante dele “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as
estrelas que estabeleceste, que é o homem que dele te lembres e o filho do
homem, que o visites” (Salmo 8.3-4). “Um
dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite” (verso
2). Deus prometeu a Noé que enquanto durar a terra não deixará de haver dia e
noite. (Gênesis 8.22). “Não há linguagem,
nem há palavras e deles não se houve nenhum som; no entanto por toda a terra se
faz ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do mundo.” (verso 3
e 4). Paulo faz uma citação de um desses versos em Romanos 10.18, porém isso
ecoa o ensino de Paulo em Romanos 1, que mostra que todos são indesculpáveis
pois em todo lugar as obras da criação declaram que há um Deus. No fim do verso
4 até o verso 6, Davi fala sobre o sol, é interessante ele dizer que Deus fez
um tenda para o sol, quem usa Tenda não tem morada fixa, assim também é em
relação ao sol, que sobre nossa perspectiva está sempre em movimento e aquece
toda a terra, e assim sempre será diante dos nossos olhos o sol vai de um canto
ao outro da terra e aquece tudo com o seu calor.
Agora
do verso 7 a 10, Davi fala sobre a outra maneira pela qual Deus se revela que é
por sua Palavra. Ele faz isso por meio de 6 sentenças nas quais repete o nome
Yavé. “A lei do SENHOR é perfeita, e
restaura a alma”(verso 7) portanto, a Lei de Deus é perfeita, e por ser
perfeita é a única que pode nos restaurar e encaminhar para a perfeição,
fazendo com que o “homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” 2 Timóteo 3.17, “O testemunho do SENHOR é fiel e dá
sabedoria aos símplices” (verso 7) O testemunho do SENHOR é verdadeiro, e “Guia os humildes na justiça e ensina aos
mansos o seu caminho” (Salmo 25.9). “Os
preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração”(verso 8) Os preceitos do
SENHOR referente a todas as coisas são sempre retos (Salmo 119.128), e além
disso alegram o coração, os Filhos de Deus sempre se alegram com sua lei. “O mandamento do SENHOR é puro e ilumina os
olhos” (verso 8) por ser totalmente limpo e puro a Palavra de Deus pode
iluminar nossos olhos, a Palavra de Deus é “luz
para os meus caminhos” (Salmo 119.105) só com ela em mente posso observar
claramente as coisas. “O temor do SENHOR
é límpido e permanece para sempre” Matthew Henry diz que o temor do SENHOR
é a verdadeira religião e piedade prescritos na Palavra, reinando no coração e
praticado na vida, e isso durará para sempre, porque “as portas do inferno não prevalecerão contra ela [a igreja]”
(Mateus 16.18). E “os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente
justos” Não há injustiça em nenhum julgamento do SENHOR.
Davi
continua com algumas reflexões sobre a Palavra de Deus a partir do verso 11. “São mais desejáveis do que o ouro, mais do
que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos”
(verso 10) Ele compara a Palavra de Deus com aquilo que é mais valioso,
mostrando seu valor imensurável, e com o que havia de mais doce mostrando quão
valiosa é a Palavra de Deus para os seus filhos. “Além disso por elas se admoesta o teu servo;” (verso 11) A Palavra
de Deus nos avisa, nos alerta, a escritura é útil “para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça” (2 Timóteo 3.16). E além disso “em
os guardar, a grande recompensa”(verso 11) há sempre a recompensa de se
guardar a Palavra de Deus, ainda que ninguém seja salvo pela lei. A Bíblia nos
ensina sobre um galardão, mas a recompensa sempre deve ser vista como um
presente ao próprio Cristo, pois “Deus efetua
em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”
(Filipenses 2.13). “Quem há que possa
discernir as próprias faltas?”(verso 12) Sem a Palavra de Deus como poderia
saber o que é certo e o que é errado, poderia descobrir isso de algum modo?
Pela opinião da maioria, então quem poderia condenar Hitler, ou índios
canibais, ou algumas civilizações que consideram o roubo uma virtude como o
espartanos? Apenas a Palavra nos ensina a discernir, pois essa Palavra pura que
ilumina os nossos olhos. E Davi termina com alguns pedidos, perdão, guarda-lo
da soberba para que ele seja irrepreensível e que “As Palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam
agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!” Nenhum
pedido como de muitos hoje, mas um pedido centrado no próprio Deus e naquilo
que lhe é agradável. No Salmo 1 versos 1 e 2
aprendemos que “Bem-aventurado o
homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos
pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes o seu prazer está
na lei do SENHOR e na sua lei medita de dia e de noite.” Sabemos que as “boca fala do que o está cheio o coração”
(Mateus 12.34) e se nosso coração estiver cheio da Palavra de Deus, certamente
nossas palavras serão agradáveis ao SENHOR, que é nossa rocha, nosso
fundamento, e apenas aqueles que ouvem suas palavra e as praticam que edificam
sua casa sobre a rocha. (Ver Mateus 7.24).
Queria
meditar em alguns pontos relacionados a essa Palavra, primeiro vamos falar
sobre algo que é meio filosófico, por assim dizer. Uma das grandes questões da
filosofia é. Como podemos saber alguma coisa? Como posso descobrir a verdade?
Como eu sei que não vivo no Matrix, ou que eu não nasci há 5 minutos? Se
pensarmos do ponto de vista naturalista, nós somos apenas resultado de uma luta
pela sobrevivência, assim também é nosso cérebro, logo não há razão nenhuma para
que o que nosso cérebro pense seja verdadeiro, nesse caso mesmo a lógica e aquilo
que declaro ser verdade não passariam de sinapses de nosso cérebro, elas
mudariam com o tempo, mas se a verdade muda então o que eu penso nunca foi
verdade, e se nesse mundo naturalista não pode haver verdade, o naturalismo
também não pode ser considerado verdadeiro. Além disso, o homem nunca pode
saber todas as coisas, nenhum de nós é onisciente, de modo que uma declaração
verdadeira sobre algo nunca poderia vir de nós, só poderia vir de Deus, que é
ETERNO, ONISCIENTE, que sabe todas as coisas, e só poderíamos saber algo se Ele
nos revelasse, e assim ele fez por meio de Sua Palavra. Pois Cristo é
verdadeira luz que ilumina a todo homem (ver João 1.9) nesse caso não pode a
luz se referir a salvação, visto que nem todos são salvos, mas ao conhecimento
que só pode existir se revelado por Deus. Apenas a bíblia nos mostra a maneira
correta de compreender o mundo, ela não é um enciclopédia que trata de todos os
assuntos, mas nos fornece pressuposições que nos permitem entender e
compreender o mundo racionalmente. Sei irmãos que há dificuldades com a bíblia,
há muitos textos em que possivelmente morreremos sem compreender, há passagens
difíceis, algumas passagens parecem se contradisser e nem sempre há respostas
adequadas para esses questionamentos. Mas os críticos tem muito que nos
responder também, sobre como pode haver tamanha harmonia entre seus
ensinamentos? Como pode um livro focar tanto na Glória de Deus quando somos tão
centrados em nós mesmos? Como poderia um povo falar tamanho mal de si mesmos,
quando somos nós tão hipócritas em falar sobre nossos defeitos? Como cada
personagem e cada história aponta de modo maravilhoso para redenção de Cristo
Jesus, desde a promessa daqueles que esmagaria a cabeça da serpente, a veste de
animais dada pelo próprio Deus para cobrir a nudez de Adão e Eva, o cordeiro da
Páscoa, os sacrifícios feitos pelo povo, a serpente levantada no deserto, etc.
Como os ensinamentos bíblicos são coerentes e lógicos e como principalmente
Cristo responde a difícil questão de como Deus pode ser justo e misericordioso
ao mesmo tempo? J. Scott Horrell conta que um dia perguntou a Schaeffer “Mas
como posso saber se a Bíblia é a verdade?” Ele respondeu: “Viva o que Ela diz e
você vai saber”.
Em
segundo lugar vamos analisar a relação que Davi tem com a Palavra de Deus,
pergunto-lhes pode o homem naturalmente se sentir assim? Olhe para sua vida,
lembre-se de quando você era criança veja como você sempre se rebela a qualquer
ordem, como é sempre cobiçado pelo proibido, como os caldeus também somos
aqueles que “criam mesmos o seu direito e
a sua dignidade” (Habacuque 1.7). Então como alguém pode ter tal atitude em
relação ao pesado padrão moral da Palavra de Deus? O fato de nossa natureza ser
má implica necessariamente que não podemos muda-la. Como diz Jeremias “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o
leopardo as suas manchas? Então poderíeis fazer o bem, estando acostumados a
fazer o mal” (Jeremias 13.23). Alguém
só pode agir assim de o próprio Deus mudar sua natureza, não á atoa que Cristo
diz a Nicodemos “se alguém não nascer de
novo não pode ver o Reino de Deus” (João 3.3). Essa é uma necessidade a
todos os homens, tanto aos que nasceram na igreja, tanto aos que viveram
intensamente no mundo, pois “todos
pecaram” (Romanos 3.23).
Além
disso, em terceiro lugar, uma pergunta poderia surgir, se somos salvos pela
Graça somente, porque temos que ter tal atitude com a lei? Isso não é
legalismo, não era necessário apenas na antiga aliança? Veja como Davi termina
o Salmo, ele fala do SENHOR, Rocha minha e Redentor meu! Davi mostra que não é
a lei que nos redime, mas Deus, a salvação é sempre a base pela qual passamos a
seguir a lei, antes dos dez mandamentos o SENHOR diz, “Eu sou o SENHOR, teu Deus que te tirou da terra do Egito” (Êxodo
20.2) A Salvação é sempre a base pela qual passamos a viver de acordo com a lei,
podemos dizer que não somos salvos pela lei, mas somos salvos para cumprir a
lei “Pois somos feitura dele, criados em
Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas” (Efésios 2.10) lemos em Tito 2.14 “o qual [Cristo] a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda
iniquidade e purificar par si um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”
Aqueles que foram salvos por Cristo O amam e Cristo nos diz “Se me amais, guardarei os meus mandamentos”
(João 14.15) e as ovelhas do bom pastor ouvem a sua voz (João 10.27).
Aplicação
Diante
de tudo que discutimos hoje, queria lançar a todos vocês uma pergunta, esse é
um momento de olharmos para nós mesmos e sermos sinceros em relação a essa
pergunta. Qual é a tua relação com a Palavra de Deus? Pense um pouco sobre
isso. Você tem prazer em cumprir o que ela diz? Pode-se alegrar com aquilo que
ela diz? Ou você é o tipo de pessoa que sempre quer que ela diga algo
diferente, que nunca aceita o que está muito claro nela? Medite cada um
seriamente nisso “Qual é a minha relação para com a Palavra de Deus?”
Uma
das respostas pode ser. Eu tenho prazer nela, as vezes caio, as vezes
transgrido suas leis, mas me entristeço com isso. Porém minha alegria está
quando eu ando na lei do Senhor e quando, parafraseando João “Não tenho alegria
maior do que esta, de ouvir que meus [irmãos] andam na verdade” (ver 3 João 4).
Para você esse salmo nos lembra de que haverá grande recompensa, lembre que o
mesmo SENHOR que nos guia com o conselho dele, sua Palavra, é aquele que nos
recebe na glória (ver Salmos 73.24).
Outra
resposta pode ser, já tive prazer na lei de Deus, mas ando entristecido pois
não tenho mais vivido desse modo. Para você cabe o mesmo conselho dado a igreja
de Éfeso, “Lembra-te, pois, de onde
caíste, arrepende-te e volta a prática das primeiras obras” (Apocalipse
2.5) Seu pai estará sempre pronto a te receber como se você não tivesse feito
nada de errado, sem nenhuma palavra de
acusação. Volte-se a Ele, e pela obra de Cristo Ele o recebe de braços abertos.
Alguns
podem pensar que já tiveram prazer na lei de Deus, mas hoje se divertem em
descumprir a lei, não aceitam aquilo que está na Palavra, esse é um sinal de
que você nunca se alegrou verdadeiramente na lei de Deus. Você provavelmente se
alegrou porque teve uma visão errada da lei, mas quando a conheceu preferiu
esse mundo. Talvez não haja momento que você lembre-se de ter caído, mesmo
porque você nunca esteve de pé. Você pode ter certeza de que nunca se alegrou
em cumprir a lei de Deus, você pode ser aquele que ainda vive para si mesmo. E
nesse caso, não faz diferença se você nasceu ou não na igreja, se teu pai e
pastor ou se você é filho de uma prostituta, se você se prostitui e faz isso
fisicamente, ou se faz isso apenas mentalmente atrás da tela de um computador.
Pode ser que você nem faça essas coisas, que você até viva razoavelmente, mas
seu prazer está em fazer aquilo que é errado, você sonha em viver mais
intensamente no pecado, tem inveja daqueles que vivem intensamente no mundo. Se
algumas destas descrições se referem a você, você certamente está perdido. Você
está condenado. Você nem mesmo poderia ir para o céu, pois não haveria alegria
lá para alguém como você. E em você não há capacidade de fazer algo para se
salvar. Você está perdido. E como diz Jonathan Edwards, “Nada a não ser a
vontade de Deus impede que você seja lançado no inferno agora mesmo”. Mas a
Palavra de Deus, não é somente lei, também é boas-novas, e há um Redentor, que
cumpriu totalmente a lei de modo que aquele que confia na obra dele pode ser
salvo. Não importa quão impiamente você tenha vivido, quão intensamente você
tenha mergulhado no pecado, o sangue d’Ele é suficiente para te limpar, apenas
confie na obra d’Ele. Há uma hino em inglês que diz o seguinte:
Há uma fonte preenchida com o sangue
Extraído das veias de Emanuel
E os pecadores mergulhados nessa corrente
Perdem todas as suas manchas de pecado[1]
“Fiel é
a Palavra e digna de toda aceitação: Que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar
os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1.15).
“Que
as palavras dos nossos lábios e o meditar do nosso coração sejam agradáveis na
tua presença. SENHOR Rocha nossa e Redentor Nosso” Amém.
Autor: Ivan Junior
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