quinta-feira, 14 de junho de 2012

O cristão em relação ao mundo, o mundo em relação ao cristão


O evangelho de Mateus foca bastante sobre o ofício de Cristo como rei. Como sacerdote Cristo entregou a si mesmo pelo Seu povo, como profeta Ele fala a Palavra de Deus ao povo como fez no sermão do monte. Porém Mateus foca bastante o ofício de Cristo como Rei. Os magos perguntaram “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?” (Mateus 2.2). No capítulo 4 vemos “passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 4.17). “pregando o evangelho do reino” (Mateus 4.23).
Os judeus tinham um conceito errado do reino, vendo Cristo apenas como um libertador político, e Cristo corrige essa ideia errada do reino.
Apesar de Cristo reinar sobre todos, nem todos fazem parte do “Reino dos céus”. E a Bíblia contrasta que aqueles que não fazem parte do reino não tem a vida eterna e serão lançados fora. No sermão do monte Cristo fala das características daqueles que fazem parte do “Reino dos céus”.
No capítulo 5, do verso 1 a 16, Cristo fala das características daqueles que fazem parte do reino. Do capítulo 5 verso 17 até o capítulo 7 verso 12 Cristo fala da correta interpretação da lei. E no fim do capítulo 7 as diferenças entre os verdadeiros e falsos discípulos.
Antes de estudarmos o texto que lemos, é necessário darmos uma olhada geral no inicio do sermão. As beatitudes ou bem-aventuranças falam das características dos verdadeiros cristãos. Eles são humildes de espírito em reconhecer sua incapacidade de salvarem a si mesmos, como o publicano que “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito dizendo: Ó Deus se propício a mim pecador!”(Lc 18..13). Choram pelos seus pecados e pelos pecados do seu povo como Paulo: ”Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” (Rm 7.24). São mansos em ouvir a voz do Bom Pastor porque “As minhas ovelhas ouvem a minha voz;” (João 10.27). Tem fome e sede de justiça, anseiam pela justiça de Deus. São misericordiosos como o bom samaritano, e não podem ser diferentes aqueles que foram salvos apenas pela misericórdia de Deus. São limpos de coração, servem a Cristo somente, não vivem uma vida dupla. E são pacificadores, não de acordo com a tolerância ao erro porque tem fome e sede de justiça, mas lembram do que Paulo diz “se possível quando depender de vós, tende paz com todos os homens;” (Rm 12.18)
O mundo em relação ao cristão
Nós começamos nossa mensagem com a última bem aventurança. Porque? Nessa bem aventurança vemos como o mundo reage aos cristãos, e nos versos seguintes vemos como o cristão deve agir perante o mundo.  Pensando nas bem aventuranças, alguém que tem todas essas características deveria ser amado pelo mundo, mas não é isso que a Palavra nos diz. Quem senão Cristo, foi humilde pois “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp 2.7). Cristo chorou o abandono de seu próprio Pai, não pelo seu pecado, mas por carregar o pecado do seu Povo. “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste”(Mt 27.46). Cristo foi manso “como cordeiro foi levado ao matadouro” (Isaías 53.7). Ele é a própria justiça de Deus, foi misericordioso em nos salvar, teve o coração totalmente limpo, e trouxe a paz pelo seu próprio sangue. E como o mundo tratou a Cristo? “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque suas obras eram más” (João 3.19). Os cristãos são aqueles que Deus “predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Por isso Cristo nos adverte que “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim”(Jo 15.18). Mas Cristo nos ensina no v.10 que são felizes os perseguidos por causa da justiça. A Palavra traduzida como bem-aventurado significa feliz, não como eu me sinto, mas o que Deus diz de mim. E Deus diz que feliz é o que é perseguido por causa da justiça, e no verso 11 entendemos que os perseguidos por causa da justiça são os que são perseguidos por causa de Cristo.
Por serem cristãos muitos homens foram a ainda são injuriados, perseguidos e todo tipo de mentira é inventada contra os cristãos. Não se engane, não é possível ser Cristão e ser amado pelo mundo ao mesmo tempo. A luz mostra as obras das trevas, os cristãos carregam “o bom perfume de Cristo” (2 Cor2.15) que também traz “cheiro de morte para morte” (2 Cor 2.16).
Algo importante deve ser salientado, felizes são os cristãos que sofrem por causa de Cristo. Devemos lembrar o que Pedro diz “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da Glória de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso, antes glorifique a Deus com esse nome” (1 Pe 4.14-16). Há alegria em sofrer como cristão e não como malfeitor.
Cristo diz que devemos nos “regozijai e exultai” v.12 se sofrermos por Cristo, e foi isso que os apóstolos fizeram quando se “retiraram do sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afronta por esse Nome” (At 5.41). Quando Cristo compara o sofrimento daqueles que sofreram por Ele com o sofrimento dos profetas, de modo indireto Cristo afirma que também é Deus.
O cristão em relação ao mundo
V.13 Antes de entendermos esse versículo, devemos compreender algo sobre o sal. Nessa época o sal era retirado da costa do mar morto, junto com o sal havia outros minerais que se pareciam com o sal, mas que não eram sal e por isso não agiam como sal. Esse sal que não é na verdade sal acabava sendo jogado na terra e nos telhados das casas para evitar vazamento, e como nessa época as pessoas andavam por sobre as casas o “sal sem sabor” de nada serve a não ser para ser pisado pelos homens.
Além disso, precisamos compreender qual a função do sal, até antes de inventarem a geladeira o sal sempre teve a função de preservar, de evitar a degradação.
Com essas coisas em mentes compreendemos como os cristãos agem em relação ao mundo. Cristo afirma “vós sois”, Ele não diz, talvez sejam, ou devem ser, mas diz “vós sois”, ou seja se você é um verdadeiro cristão, você é necessariamente sal, se você não é sal é porque você não é cristão.
E como sal os cristãos salvam o mundo de sua total degradação. Você já parou para pensar como seria o mundo se não houvesse nenhum dos valores cristãos? Observamos de certa forma isso na sociedade, os valores cristãos têm desaparecido e sido substituídos pelos valores pagãos. E se isso acontece, quando Cristo afirma que os cristãos necessariamente são o “sal da terra” com tanta gente se dizendo cristã, a única conclusão lógica que podemos chegar é que muitos que se dizem cristãos não são cristãos de verdade.
Outro ponto importante é que o sal é diferente do local sobre qual ele age, portanto os cristãos são diferentes do mundo, e eles são sal da terra, não para estar com outro sal, mas para agir no mundo. Quando alguém que se diz cristão se parece com o mundo, o mundo passa por cima dele.
Um cristão não foi chamado para se conformar com esse século, mas para transformá-lo pela renovação da sua mente. (Rm 12.2).
v.14 Novamente Cristo fala que os cristãos são, não devem ser, a luz do mundo. A luz dos cristãos é uma luz que não vem deles mesmos. “De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.” (Jo 8.14). Portanto os cristãos são “luz no Senhor”(Ef 5.8).
Luz do mundo pressupõe que o mundo está em trevas, além da conotação moral e de enfatizar a diferença entre os cristãos e os não cristãos a luz também tem um aspecto intelectual. O período da história onde o homem buscou mais a razão foi chamado “iluminismo”.
Jesus disse: “Ainda por um pouco a luz está convosco. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem ; e quem anda nas trevas não sabe para onde vai.” (Jo 12.35).
Apenas os que andam na luz podem compreender realmente o mundo, a Bíblia é como uns óculos que nos permitem compreender e entender corretamente o mundo, nas trevas nós não enxergamos nada, sem o conhecimento que só pode vir do Senhor não poderemos compreender o mundo. O mundo não pode conhecer a Deus por sua própria sabedoria (1 Cor 1.21).E Cristo “se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria”(1 Cor 1.30). Cristo é o Logos (verbo), Palavra que também pode significar sabedoria e lógica.
No restante do v.14 e no v.15 Cristo enfatiza que a luz não pode ser escondida. Cristo nos ensina a ser “sal na terra” e “luz no mundo”. Houve um período na história da igreja, onde por perceber a corrupção moral na igreja os homens resolveram se isolar em mosteiros. A figura do sal e da luz nos ensina duas coisas, que devemos ser diferentes do mundo “como num mosteiro”, mas ao mesmo tempo devemos permanecer no mundo. Devemos ser diferentes do mundo e ao mesmo tempo não podemos fugir do mundo.
Essa ideia é ainda enfatizada no v.16 “Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens”. E nesse versículo ainda vemos o verdadeiro objetivo das boas obras, uma boa obra só é uma boa obra se levar os homens a glorificarem a Deus. Como Daniel que fez o rei Dario escrever um decreto para que todos os homens “temam a tremam perante o Deus de Daniel” (Daniel 6.26)
Antes de partirmos para aplicação, acho bom meditarmos em uma coisa. Deus chamou Abraão e o prometeu uma terra a ele, Abraão, assim como Isaque e Jacó habitaram como peregrinos na terra que Deus prometeu a eles. Os cristãos também são chamados de peregrinos, “Amado, exorto-vos como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que naquilo que falam de vós outros como malfeitores, observando-vos em vossas boas-obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”(1 Pe 2.11-12). Como peregrinos não agimos como os demais habitantes dessa terra, sabemos que essa terra é nossa, que nós a herdaremos, mas agimos como peregrinos como cidadãos dos céus, e é desse modo que agimos de modo diferente do mundo agindo como peregrinos e estrangeiros, e assim salvamos o mundo das trevas e da total degradação.
Que ironia! O mundo nos odeia e ao mesmo tempo precisa de nós! Deus mostra um pouco de sua misericórdia sobre os que não são do seu povo usando para isso o reflexo de sua luz que há em cada um dos Seus filhos. Mas chegará o dia em que será lançado fora todo aquele que não é do Seu povo, para um lugar onde não haverá mais nenhuma luz e mais nenhum sal.
Aplicação
De que lado você está? Esta entre os perseguidos ou os que perseguem? Não gosta das pessoas que demonstram uma vida mais piedosa? É o sal ou a terra? Luz ou trevas? Examine-se a si mesmo, você é realmente diferente do mundo e está sendo transformado na imagem de Cristo? Desconfie se você responde tudo isso com muita facilidade, como alguém que se sente muito avançado nessas coisas, lembre-se que a humildade de espírito é a primeira bem-aventurança. Olhe por um momento para si mesmo.
Se você reconhece, não em si mesmo, mas pela obra de Deus ainda que em dificuldades, “porque sete vezes cairá o justo e se levantará” (Pv 24.16) que tem sido transformado por Deus e sido diferente, lembre-se do que Cristo diz, que você é feliz. Feliz mesmo quando é perseguido por ser fiel ao Bom Pastor, nesses momentos é que você tem ainda mais razão para se regozijar. Lembre-se que você é peregrino e forasteiro, mas que essa terra foi prometida a você, e lembre-se das últimas palavras do evangelho de Mateus “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Não fuja desse mundo, Cristo não o chamou para fugir e se esconder, mas o chamou para ser sal e luz, diferente desse mundo. Cresça no conhecimento da Palavra de Deus, sendo transformado segundo a sua imagem, mudando o mundo ao seu redor. Cristo não o chamou para fugir, mas para agir no mundo, não se parecendo com o mundo mas o transformando. Cristo não o chamou para perder tempo com trivialidades, mas para refletir a luz d’Ele no mundo de modo a levar os homens a glorificarem a Deus.
Porém, se você sabe que está distante dos caminhos do Senhor, sonha em se parecer com esse mundo, tem medo de parecer diferente, e não gosta muito daqueles que demonstram serem mais piedosos. Não se engane, você não faz parte do reino dos céus e se aproxima o dia, em que não haverá mais nenhum sal e nenhuma luz, nenhum sinal mais da misericórdia de Deus. E esse dia será eterno. Você será entregue a corrupção que há em si mesmo, e nada além da vontade de Deus impede que Ele faça isso agora mesmo. Porém há esperança mesmo para o pior dos pecadores, olhe para Cristo porque “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tim 1.15). E por meio do sacrifício de Cristo Deus pode dizer “Vinde, pois e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornaram como a lã” (is 1.18). E quando você se voltar ao Pai, quando Ele ver você ainda longe, o abraçará e o beijará, irá lhe vestir com a melhor roupa, colocara em você um anel e uma sandália, porque há jubilo no céu por um pecador que se arrepende.
Que nosso Deus e Pai, abra os nossos olhos por meio do Seu Espírito, para que vejamos a luz que há no filho e que sejamos dia após dia transformados segundo a Sua imagem. Amém. 


Autor: Ivan Junior

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