O
evangelho de Mateus foca bastante sobre o ofício de Cristo como rei. Como
sacerdote Cristo entregou a si mesmo pelo Seu povo, como profeta Ele fala a
Palavra de Deus ao povo como fez no sermão do monte. Porém Mateus foca bastante
o ofício de Cristo como Rei. Os magos perguntaram “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?” (Mateus 2.2). No
capítulo 4 vemos “passou Jesus a pregar e
a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mateus 4.17).
“pregando o evangelho do reino” (Mateus
4.23).
Os
judeus tinham um conceito errado do reino, vendo Cristo apenas como um
libertador político, e Cristo corrige essa ideia errada do reino.
Apesar
de Cristo reinar sobre todos, nem todos fazem parte do “Reino dos céus”. E a Bíblia contrasta que aqueles que não fazem
parte do reino não tem a vida eterna e serão lançados fora. No sermão do monte
Cristo fala das características daqueles que fazem parte do “Reino dos céus”.
No
capítulo 5, do verso 1 a 16, Cristo fala das características daqueles que fazem
parte do reino. Do capítulo 5 verso 17 até o capítulo 7 verso 12 Cristo fala da
correta interpretação da lei. E no fim do capítulo 7 as diferenças entre os
verdadeiros e falsos discípulos.
Antes
de estudarmos o texto que lemos, é necessário darmos uma olhada geral no inicio
do sermão. As beatitudes ou bem-aventuranças falam das características dos
verdadeiros cristãos. Eles são humildes de espírito em reconhecer sua
incapacidade de salvarem a si mesmos, como o publicano que “não ousava nem ainda levantar os olhos ao
céu, mas batia no peito dizendo: Ó Deus se propício a mim pecador!”(Lc
18..13). Choram pelos seus pecados e pelos pecados do seu povo como Paulo: ”Desventurado homem que sou! Quem me livrará
do corpo dessa morte?” (Rm 7.24). São mansos em ouvir a voz do Bom Pastor
porque “As minhas ovelhas ouvem a minha
voz;” (João 10.27). Tem fome e sede de justiça, anseiam pela justiça de
Deus. São misericordiosos como o bom samaritano, e não podem ser diferentes
aqueles que foram salvos apenas pela misericórdia de Deus. São limpos de
coração, servem a Cristo somente, não vivem uma vida dupla. E são
pacificadores, não de acordo com a tolerância ao erro porque tem fome e sede de
justiça, mas lembram do que Paulo diz “se
possível quando depender de vós, tende paz com todos os homens;” (Rm 12.18)
O
mundo em relação ao cristão
Nós
começamos nossa mensagem com a última bem aventurança. Porque? Nessa bem
aventurança vemos como o mundo reage aos cristãos, e nos versos seguintes vemos
como o cristão deve agir perante o mundo. Pensando nas bem aventuranças, alguém que tem
todas essas características deveria ser amado pelo mundo, mas não é isso que a
Palavra nos diz. Quem senão Cristo, foi humilde pois “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp 2.7).
Cristo chorou o abandono de seu próprio Pai, não pelo seu pecado, mas por
carregar o pecado do seu Povo. “Deus meu,
Deus meu, porque me desamparaste”(Mt 27.46). Cristo foi manso “como cordeiro foi levado ao matadouro”
(Isaías 53.7). Ele é a própria justiça de Deus, foi misericordioso em nos
salvar, teve o coração totalmente limpo, e trouxe a paz pelo seu próprio
sangue. E como o mundo tratou a Cristo? “a
luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque suas
obras eram más” (João 3.19). Os cristãos são aqueles que Deus “predestinou para serem conformes à imagem
de seu Filho” (Rm 8.29). Por isso Cristo nos adverte que “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do
que a vós outros, me odiou a mim”(Jo 15.18). Mas Cristo nos ensina no v.10
que são felizes os perseguidos por causa da justiça. A Palavra traduzida como
bem-aventurado significa feliz, não como eu me sinto, mas o que Deus diz de
mim. E Deus diz que feliz é o que é perseguido por causa da justiça, e no verso
11 entendemos que os perseguidos por causa da justiça são os que são perseguidos
por causa de Cristo.
Por
serem cristãos muitos homens foram a ainda são injuriados, perseguidos e todo
tipo de mentira é inventada contra os cristãos. Não se engane, não é possível
ser Cristão e ser amado pelo mundo ao mesmo tempo. A luz mostra as obras das
trevas, os cristãos carregam “o bom
perfume de Cristo” (2 Cor2.15) que também traz “cheiro de morte para morte” (2 Cor 2.16).
Algo
importante deve ser salientado, felizes são os cristãos que sofrem por causa de
Cristo. Devemos lembrar o que Pedro diz “Se,
pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem aventurados sois, porque sobre vós
repousa o Espírito da Glória de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como
assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de
outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso, antes glorifique a
Deus com esse nome” (1 Pe 4.14-16). Há alegria em sofrer como cristão e não
como malfeitor.
Cristo
diz que devemos nos “regozijai e exultai”
v.12 se sofrermos por Cristo, e foi isso que os apóstolos fizeram quando se
“retiraram do sinédrio regozijando-se por
terem sido considerados dignos de sofrer afronta por esse Nome” (At 5.41).
Quando Cristo compara o sofrimento daqueles que sofreram por Ele com o sofrimento
dos profetas, de modo indireto Cristo afirma que também é Deus.
O
cristão em relação ao mundo
V.13
Antes de entendermos esse versículo, devemos compreender algo sobre o sal.
Nessa época o sal era retirado da costa do mar morto, junto com o sal havia
outros minerais que se pareciam com o sal, mas que não eram sal e por isso não
agiam como sal. Esse sal que não é na verdade sal acabava sendo jogado na terra
e nos telhados das casas para evitar vazamento, e como nessa época as pessoas
andavam por sobre as casas o “sal sem sabor” de nada serve a não ser para ser
pisado pelos homens.
Além
disso, precisamos compreender qual a função do sal, até antes de inventarem a
geladeira o sal sempre teve a função de preservar, de evitar a degradação.
Com
essas coisas em mentes compreendemos como os cristãos agem em relação ao mundo.
Cristo afirma “vós sois”, Ele não
diz, talvez sejam, ou devem ser, mas diz “vós
sois”, ou seja se você é um verdadeiro cristão, você é necessariamente sal,
se você não é sal é porque você não é cristão.
E
como sal os cristãos salvam o mundo de sua total degradação. Você já parou para
pensar como seria o mundo se não houvesse nenhum dos valores cristãos?
Observamos de certa forma isso na sociedade, os valores cristãos têm
desaparecido e sido substituídos pelos valores pagãos. E se isso acontece,
quando Cristo afirma que os cristãos necessariamente são o “sal da terra” com tanta gente se dizendo
cristã, a única conclusão lógica que podemos chegar é que muitos que se dizem
cristãos não são cristãos de verdade.
Outro
ponto importante é que o sal é diferente do local sobre qual ele age, portanto
os cristãos são diferentes do mundo, e eles são sal da terra, não para estar
com outro sal, mas para agir no mundo. Quando alguém que se diz cristão se
parece com o mundo, o mundo passa por cima dele.
Um
cristão não foi chamado para se conformar com esse século, mas para transformá-lo
pela renovação da sua mente. (Rm 12.2).
v.14
Novamente Cristo fala que os cristãos são, não devem ser, a luz do mundo. A luz
dos cristãos é uma luz que não vem deles mesmos. “De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me
segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.” (Jo
8.14). Portanto os cristãos são “luz no
Senhor”(Ef 5.8).
Luz
do mundo pressupõe que o mundo está em trevas, além da conotação moral e de
enfatizar a diferença entre os cristãos e os não cristãos a luz também tem um
aspecto intelectual. O período da história onde o homem buscou mais a razão foi
chamado “iluminismo”.
Jesus
disse: “Ainda por um pouco a luz está
convosco. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem ; e
quem anda nas trevas não sabe para onde vai.” (Jo 12.35).
Apenas
os que andam na luz podem compreender realmente o mundo, a Bíblia é como uns
óculos que nos permitem compreender e entender corretamente o mundo, nas trevas
nós não enxergamos nada, sem o conhecimento que só pode vir do Senhor não
poderemos compreender o mundo. O mundo não pode conhecer a Deus por sua própria
sabedoria (1 Cor 1.21).E Cristo “se nos
tornou, da parte de Deus, sabedoria”(1 Cor 1.30). Cristo é o Logos (verbo),
Palavra que também pode significar sabedoria e lógica.
No
restante do v.14 e no v.15 Cristo enfatiza que a luz não pode ser escondida.
Cristo nos ensina a ser “sal na terra” e “luz no mundo”. Houve um período na
história da igreja, onde por perceber a corrupção moral na igreja os homens resolveram
se isolar em mosteiros. A figura do sal e da luz nos ensina duas coisas, que
devemos ser diferentes do mundo “como num mosteiro”, mas ao mesmo tempo devemos
permanecer no mundo. Devemos ser diferentes do mundo e ao mesmo tempo não
podemos fugir do mundo.
Essa
ideia é ainda enfatizada no v.16 “Assim
também brilhe a vossa luz diante dos homens”. E nesse versículo ainda vemos
o verdadeiro objetivo das boas obras, uma boa obra só é uma boa obra se levar
os homens a glorificarem a Deus. Como Daniel que fez o rei Dario escrever um
decreto para que todos os homens “temam a
tremam perante o Deus de Daniel” (Daniel 6.26)
Antes
de partirmos para aplicação, acho bom meditarmos em uma coisa. Deus chamou
Abraão e o prometeu uma terra a ele, Abraão, assim como Isaque e Jacó habitaram
como peregrinos na terra que Deus prometeu a eles. Os cristãos também são
chamados de peregrinos, “Amado,
exorto-vos como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões
carnais que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento
no meio dos gentios, para que naquilo que falam de vós outros como malfeitores,
observando-vos em vossas boas-obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”(1
Pe 2.11-12). Como peregrinos não agimos como os demais habitantes dessa terra,
sabemos que essa terra é nossa, que nós a herdaremos, mas agimos como
peregrinos como cidadãos dos céus, e é desse modo que agimos de modo diferente
do mundo agindo como peregrinos e estrangeiros, e assim salvamos o mundo das
trevas e da total degradação.
Que
ironia! O mundo nos odeia e ao mesmo tempo precisa de nós! Deus mostra um pouco
de sua misericórdia sobre os que não são do seu povo usando para isso o reflexo
de sua luz que há em cada um dos Seus filhos. Mas chegará o dia em que será
lançado fora todo aquele que não é do Seu povo, para um lugar onde não haverá
mais nenhuma luz e mais nenhum sal.
Aplicação
De
que lado você está? Esta entre os perseguidos ou os que perseguem? Não gosta
das pessoas que demonstram uma vida mais piedosa? É o sal ou a terra? Luz ou
trevas? Examine-se a si mesmo, você é realmente diferente do mundo e está sendo
transformado na imagem de Cristo? Desconfie se você responde tudo isso com
muita facilidade, como alguém que se sente muito avançado nessas coisas, lembre-se
que a humildade de espírito é a primeira bem-aventurança. Olhe por um momento
para si mesmo.
Se
você reconhece, não em si mesmo, mas pela obra de Deus ainda que em
dificuldades, “porque sete vezes cairá o
justo e se levantará” (Pv 24.16) que tem sido transformado por Deus e sido
diferente, lembre-se do que Cristo diz, que você é feliz. Feliz mesmo quando é
perseguido por ser fiel ao Bom Pastor, nesses momentos é que você tem ainda
mais razão para se regozijar. Lembre-se que você é peregrino e forasteiro, mas
que essa terra foi prometida a você, e lembre-se das últimas palavras do
evangelho de Mateus “E eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Não fuja desse
mundo, Cristo não o chamou para fugir e se esconder, mas o chamou para ser sal
e luz, diferente desse mundo. Cresça no conhecimento da Palavra de Deus, sendo
transformado segundo a sua imagem, mudando o mundo ao seu redor. Cristo não o
chamou para fugir, mas para agir no mundo, não se parecendo com o mundo mas o transformando.
Cristo não o chamou para perder tempo com trivialidades, mas para refletir a
luz d’Ele no mundo de modo a levar os homens a glorificarem a Deus.
Porém,
se você sabe que está distante dos caminhos do Senhor, sonha em se parecer com
esse mundo, tem medo de parecer diferente, e não gosta muito daqueles que
demonstram serem mais piedosos. Não se engane, você não faz parte do reino dos
céus e se aproxima o dia, em que não haverá mais nenhum sal e nenhuma luz,
nenhum sinal mais da misericórdia de Deus. E esse dia será eterno. Você será
entregue a corrupção que há em si mesmo, e nada além da vontade de Deus impede
que Ele faça isso agora mesmo. Porém há esperança mesmo para o pior dos
pecadores, olhe para Cristo porque “Fiel
é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tim 1.15). E por meio
do sacrifício de Cristo Deus pode dizer “Vinde,
pois e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a
escarlata eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como
o carmesim, se tornaram como a lã” (is 1.18). E quando você se voltar ao
Pai, quando Ele ver você ainda longe, o abraçará e o beijará, irá lhe vestir
com a melhor roupa, colocara em você um anel e uma sandália, porque há jubilo
no céu por um pecador que se arrepende.
Que
nosso Deus e Pai, abra os nossos olhos por meio do Seu Espírito, para que
vejamos a luz que há no filho e que sejamos dia após dia transformados segundo
a Sua imagem. Amém.
Autor: Ivan Junior
Autor: Ivan Junior
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