“Ouviste
o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso;
mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao
que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se
alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”
(Mateus 5.38-41)
Dizem
que Gandhi foi o autor de uma frase mais ou menos assim “olho por olho, dente
por dente e todos vão acabar cegos e banguelas” Apesar de muitos pensarem que o
ensino de Cristo e de Gandhi são semelhantes, queria demonstrar que Gandhi está
errado.
Para
compreendermos o que Jesus quis dizer nos versos acima precisamos compreender
todo o contexto da mensagem.
Primeiro
temos que compreender que Cristo não venho invalidar o antigo testamento, antes
cumpri-lo, “Não pense que vim revogar a lei ou os profetas” (Mateus 5.17), o
Evangelho de Mateus começa com as seguintes palavras “Livro da Genealogia de
Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mateus 1.1) A verdade do Antigo
testamento é pressuposta em todo o novo testamento, sem compreendermos o Antigo
testamento como saberíamos quem foi Davi, quem foi Abraão. Quando Cristo é
tentado pelo diabo, Ele usa a Palavra de Deus, e quando se refere a Ela Cristo
diz “está escrito” (Mateus 4.4, 4.7, 4.10), e não “Ouviste o que foi dito” como
ele faz no contexto do Sermão do Monte.
Portanto,
achar que quando Cristo diz "ouviste o que foi dito" Ele está se
referindo ao Antigo testamento seria irracional. Por isso Cristo não poderia
estar invalidando a lei do Antigo Testamento que falava sobre o “olho por olho,
dente por dente”(Êxodo 21.24, Levítico 24.20, Deuteronômio 19.21) (falaremos mais sobre ela depois). Nem podemos achar que o texto de algum modo contraria a defesa pessoal, da família etc. O que Cristo estava
demonstrando era a interpretação errada que era dada pelos fariseus, que usavam
esse mandamento possivelmente como um meio de justiça própria. O próprio Antigo
testamento nos ensina não nos vingarmos “Se encontrares desgarrado o boi do teu inimigo ou o
seu jumento, lho reconduzirás. Se vires prostrado debaixo da sua carga o
jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo.”
(Êxodo 23.4-5). “Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; se tiver sede,
dá-lhe água para beber, porque assim amontoarás brasas vivas sobre a sua
cabeça, e o SENHOR te retribuirá.” (Provérbios 25.21-22). "Não digas: Como ele fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra" (Provérbios 24.29)
Ainda que Cristo não estivesse
invalidando aquilo que o Antigo Testamento dizia, há um ensinamento de Cristo
aqui, a proibição da justiça própria, aquele que se acha no direito de fazer
justiça com as próprias mãos se coloca no lugar de Deus, como José, novamente no Antigo testamento, reconhece
quando seus irmãos vem pedir a ele que não se vingue deles. “Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de
Deus?” (Gênesis 50.19).
Porém qual é a ideia do “olho por
olho, dente por dente” ou lei do talião como é conhecida? Temos que
compreender, que ao contrário da concepção de Gandhi, a ideia do “olho por olho”
não era estimular a violência. O conceito é que a punição de um crime deve ser
proporcional ao delito cometido, não se pode pagar um olho por um dente ou
vice-versa, portanto a lei visa tanto limitar a violência como busca uma
punição justa ao crime. Como diz Mauro Meister:
“Logo o que muitos entendem ser um ato de vingança pura e simples, é na
verdade, um ato de retribuição necessária, tanto como a punição para o
indivíduo que comete o crime quanto para o ambiente social, visando prover
meios para a reeducação com criminoso e também inibir outro delitos.
Considerando que se trata de aplicação da lei aos cidadãos, deveria ser
aplicada no contexto das instituições civis da época (nas tribos, associações
tribais, monarquias, etc.), desestimulando assim a vingança pessoal e estabelecendo
o limite da retribuição para as autoridades que aplicavam a lei e julgavam as
causas de seus governados”
Se alguém perdeu um dente por ter
tirado o dente de alguém, logo ele não tem o direito de exigir que aquele que
cumpriu a lei perca o dente por isso. Portanto, a ideia de Gandhi não faz
sentido.
A lei do talião, é justa e
novamente citando Mauro Meister:
“...a chamada “lei do talião”
(olho por olho, dente por dente) no contexto bíblico é justa, serviu para o
propósito de Deus naquele tempo para a vida do seu povo e deveria servir de parâmetro
para a lei civil proclamada pelo Estado em seus códigos civil e penal.”
Recomendo esse artigo o qual
também usei para fazer citações nesse post:
Muito bom o texto. Esta reflexão se faz necessária, principalmente nos dias de hoje.
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