segunda-feira, 2 de julho de 2012

Olho por olho, dente por dente


Ouviste o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas” (Mateus 5.38-41)

Dizem que Gandhi foi o autor de uma frase mais ou menos assim “olho por olho, dente por dente e todos vão acabar cegos e banguelas” Apesar de muitos pensarem que o ensino de Cristo e de Gandhi são semelhantes, queria demonstrar que Gandhi está errado.
Para compreendermos o que Jesus quis dizer nos versos acima precisamos compreender todo o contexto da mensagem.
Primeiro temos que compreender que Cristo não venho invalidar o antigo testamento, antes cumpri-lo, “Não pense que vim revogar a lei ou os profetas” (Mateus 5.17), o Evangelho de Mateus começa com as seguintes palavras “Livro da Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mateus 1.1) A verdade do Antigo testamento é pressuposta em todo o novo testamento, sem compreendermos o Antigo testamento como saberíamos quem foi Davi, quem foi Abraão. Quando Cristo é tentado pelo diabo, Ele usa a Palavra de Deus, e quando se refere a Ela Cristo diz “está escrito” (Mateus 4.4, 4.7, 4.10), e não “Ouviste o que foi dito” como ele faz no contexto do Sermão do Monte.
Portanto, achar que quando Cristo diz "ouviste o que foi dito" Ele está se referindo ao Antigo testamento seria irracional. Por isso Cristo não poderia estar invalidando a lei do Antigo Testamento que falava sobre o “olho por olho, dente por dente”(Êxodo 21.24, Levítico 24.20, Deuteronômio 19.21) (falaremos mais sobre ela depois). Nem podemos achar que o texto de algum modo contraria a defesa pessoal, da família etc.  O que Cristo estava demonstrando era a interpretação errada que era dada pelos fariseus, que usavam esse mandamento possivelmente como um meio de justiça própria. O próprio Antigo testamento nos ensina não nos vingarmos Se encontrares desgarrado o boi do teu inimigo ou o seu jumento, lho reconduzirás. Se vires prostrado debaixo da sua carga o jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo. (Êxodo 23.4-5). Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber, porque assim amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça, e o SENHOR te retribuirá.” (Provérbios 25.21-22). "Não digas: Como ele fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra" (Provérbios 24.29)
Ainda que Cristo não estivesse invalidando aquilo que o Antigo Testamento dizia, há um ensinamento de Cristo aqui, a proibição da justiça própria, aquele que se acha no direito de fazer justiça com as próprias mãos se coloca no lugar de Deus, como José, novamente no Antigo testamento, reconhece quando seus irmãos vem pedir a ele que não se vingue deles. Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? (Gênesis 50.19).
Porém qual é a ideia do “olho por olho, dente por dente” ou lei do talião como é conhecida? Temos que compreender, que ao contrário da concepção de Gandhi, a ideia do “olho por olho” não era estimular a violência. O conceito é que a punição de um crime deve ser proporcional ao delito cometido, não se pode pagar um olho por um dente ou vice-versa, portanto a lei visa tanto limitar a violência como busca uma punição justa ao crime. Como diz Mauro Meister:
“Logo o que muitos entendem ser um ato de vingança pura e simples, é na verdade, um ato de retribuição necessária, tanto como a punição para o indivíduo que comete o crime quanto para o ambiente social, visando prover meios para a reeducação com criminoso e também inibir outro delitos. Considerando que se trata de aplicação da lei aos cidadãos, deveria ser aplicada no contexto das instituições civis da época (nas tribos, associações tribais, monarquias, etc.), desestimulando assim a vingança pessoal e estabelecendo o limite da retribuição para as autoridades que aplicavam a lei e julgavam as causas de seus governados”
Se alguém perdeu um dente por ter tirado o dente de alguém, logo ele não tem o direito de exigir que aquele que cumpriu a lei perca o dente por isso. Portanto, a ideia de Gandhi não faz sentido.
A lei do talião, é justa e novamente citando Mauro Meister:
 “...a chamada “lei do talião” (olho por olho, dente por dente) no contexto bíblico é justa, serviu para o propósito de Deus naquele tempo para a vida do seu povo e deveria servir de parâmetro para a lei civil proclamada pelo Estado em seus códigos civil e penal.”
Recomendo esse artigo o qual também usei para fazer citações nesse post:

Um comentário:

  1. Muito bom o texto. Esta reflexão se faz necessária, principalmente nos dias de hoje.

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